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segunda-feira, 2 de abril de 2018

Orvalho










por Karla Caetano


Outro dia uma gota brilhante me olhava de forma persistente e eu só conseguia pensar em como ela era cativante, quase hipnotizante. 
Era madrugada ainda, sol raiando, vindo, avermelhando o céu. 
O orvalho pingava das folhas, das flores. 
A luz tímida ainda, do sol que surgia, passava por entre as gotas formando um prisma, que colorido coloria a manhã do novo dia que devagar clareava.
Eu na estrada, esperando a condução, agachada a beira da cerca, fascinada.
Quem passasse pensaria que endoideci. 
Quem dera tivesse endoidecido antes.
Diante de uma beleza tão cheia de singeleza e que eu nunca tinha tirado tempo para contemplar.
Havia algo mais, porém, além da estética que me prendia alí.
Uma coisa de passado e uma coisa de futuro que eu não sabia explicar.
Primeiro passado, se algum dia não choveu na terra, podia até ser. 
Mas o sereno noturno que orvalhava as madrugadas, este não sei de onde tirei a certeza, existiu sempre.
Por causa do respirar das plantas, que transpiram e transpirando enchem o ar de umidade que condensa e condensada, escorre pelas folhagens.
Depois futuro, porque com o sumir das matas, certamente sumirá o orvalho.
Sumindo o orvalho, sumirão as nuvens, sumirão as chuvas, sumirão as folhas e as flores.
Sumiremos nós, sucumbiremos.
Este pensamento, junto com os faróis que iluminavam a estrada me agitaram e me tiraram do torpor de pensar tão distante. 
Levantei. O orvalho também.
Segui meu caminho. O orvalho também, em vapor.
Mais tarde voltei para casa.
O orvalho voltará também, amanhã. 
E por mais quanto tempo, ainda voltará?




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