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segunda-feira, 23 de abril de 2018

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por Karla Caetano


Quando Mani nasceu, foi alegria para o povo.
a tez muito alva da indiazinha trazia esperança naqueles dias difíceis,
parecia sinal de Tupã
O temperamento doce da menina, parecia, alimentava a alma daqueles que tinham os corpos famintos de pão naquelas paragens.
Não durou a alegria, o brilho dos olhos de Mani foi embora,
a tribo toda chorou muito, de nada adiantou.
Para não se afastarem da lembrança da esperança que mani trazia,
sepultaram a menina ali mesmo, no chão batido da oca.
Regaram seu berço com suas lágrimas salgadas, temperando de dor
e de anseio, aquele chão. Anseio de sentir de novo o sentimento que nasceu com ela e que partiu com ela.
Do berço eterno de Mani brotou verde e tímida uma fagulha de novidade.
Encantanram-se daquilo e cuidaram do germem. Entenderam que daquela forma Tupã trazia a voz de consolo de Mani.
Um dia a terra rachou e espantados varios braços, já enfraquecidos, 
cavaram e encontraram coisa para eles assombrosa.
Mas se vinha de Mani, não podia ser mal agouro.
Debaixo da casca terrosa, outra rósea e debaixo ainda, a carne branca. De novo esperança!
Alguém teve a ideia de cozer e cheirar e provar.
Descobriram que era pão e de novo tiveram forças.
E distribuíram a semente pelo mundo, por que aquilo que traz vida tem que ser compartilhado.
Passaram-se muitos tempos.
Um caboclo esqueceu um saco de raízes no leito do rio,
o rio subiu e arrastou o saco, que se prendeu a um galho e ficou lá preso por tres dias e tres noites.
De manhã, alguém achou o saco e abriu,
não achou que o cheiro era bom, mas como havia fome novamente,
reconheceu as raízes e acreditou que se fosse morrer que não fosse do vazio de corroia e doia.
Passou a massa branca e amolecida numa peneira, viu que o mingau era denso, não tinha um tipiti, resolveu espremer num pano, catou os blocos daquele gesso e os desmanchou de novo na peneira, em cima de uma esteira, deixou que evaporasse no sol, enquanto pensava o que faria daquilo, fez mingau e deu aos filhos e  bolos envolvidos em palhas que cozeu na brasa.
E comeram, e o gosto era bom,
E esperou que todos morresem, agora sem a dor da fome,
No entanto, recuperaram as forças e novamente viveram.

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