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domingo, 29 de abril de 2018

Literatura para emocionar aos amantes da agroecologia.

ANA MARIA PRIMAVESI - Histórias de Vida e Agroecologia. 



Muito grata ao amigo Roberto Vizentin por apresentar a mim e ao Flávio, esta incansável guerreira. Terminei de ler ontem. Quando estava terminando, o choro veio sem que eu pudesse contê-lo. Era como se a vida dela estivesse terminando junto com o livro, e a agroecologia que nasceu com ela e foi criada por ela, estivesse morrendo, também com ela. 
Quanto aprendizado, quanta coisa essencial! 
O homem realmente perece por falta de conhecimento. Se os agricultores deste país soubessem o que sabemos agora, seria muito mais fácil viver da terra, porque ela, a terra, literalmente fala com a gente, a gente é que não aprendeu a ouvir. 
É preciso dedicação e um pouco de boa leitura. Dediquem-se. Não deixem morrer. Caso contrário, morreremos todos.

Citações de Ana:

" ficamos cientes de que, onde a técnica se choca com as leis naturais, a natureza é que prevalece e domina."

" peguemos nossa pá, perguntemos a nossa terra o que lhe está faltando e tratemo-la depois convenientemente dentro dos limites que a natureza nos impõe, e a antiga exuberância voltará aos nossos campos e a prosperidade aos nossos lares."

Parafraseando 

"A terra é verdadeiramente uma mãe. Se você a trata bem e com respeito ela te dará tudo. Se você a maltratar ela te castigará."

Nossa resenha está no vídeo abaixo




segunda-feira, 23 de abril de 2018

Puba






por Karla Caetano


Quando Mani nasceu, foi alegria para o povo.
a tez muito alva da indiazinha trazia esperança naqueles dias difíceis,
parecia sinal de Tupã
O temperamento doce da menina, parecia, alimentava a alma daqueles que tinham os corpos famintos de pão naquelas paragens.
Não durou a alegria, o brilho dos olhos de Mani foi embora,
a tribo toda chorou muito, de nada adiantou.
Para não se afastarem da lembrança da esperança que mani trazia,
sepultaram a menina ali mesmo, no chão batido da oca.
Regaram seu berço com suas lágrimas salgadas, temperando de dor
e de anseio, aquele chão. Anseio de sentir de novo o sentimento que nasceu com ela e que partiu com ela.
Do berço eterno de Mani brotou verde e tímida uma fagulha de novidade.
Encantanram-se daquilo e cuidaram do germem. Entenderam que daquela forma Tupã trazia a voz de consolo de Mani.
Um dia a terra rachou e espantados varios braços, já enfraquecidos, 
cavaram e encontraram coisa para eles assombrosa.
Mas se vinha de Mani, não podia ser mal agouro.
Debaixo da casca terrosa, outra rósea e debaixo ainda, a carne branca. De novo esperança!
Alguém teve a ideia de cozer e cheirar e provar.
Descobriram que era pão e de novo tiveram forças.
E distribuíram a semente pelo mundo, por que aquilo que traz vida tem que ser compartilhado.
Passaram-se muitos tempos.
Um caboclo esqueceu um saco de raízes no leito do rio,
o rio subiu e arrastou o saco, que se prendeu a um galho e ficou lá preso por tres dias e tres noites.
De manhã, alguém achou o saco e abriu,
não achou que o cheiro era bom, mas como havia fome novamente,
reconheceu as raízes e acreditou que se fosse morrer que não fosse do vazio de corroia e doia.
Passou a massa branca e amolecida numa peneira, viu que o mingau era denso, não tinha um tipiti, resolveu espremer num pano, catou os blocos daquele gesso e os desmanchou de novo na peneira, em cima de uma esteira, deixou que evaporasse no sol, enquanto pensava o que faria daquilo, fez mingau e deu aos filhos e  bolos envolvidos em palhas que cozeu na brasa.
E comeram, e o gosto era bom,
E esperou que todos morresem, agora sem a dor da fome,
No entanto, recuperaram as forças e novamente viveram.

segunda-feira, 16 de abril de 2018

Saborá









por Karla Caetano

Trigona devia chamar triguinha de tão pequeninha, 
Sanharó, Benjoim, Jandaíra-preta, Vorá, Voraz, Irapuã
Se enrosca nos cabelos da menina, assustando a menina
que quando sente o cheiro da resina perde logo o medo, sabe que não tem ferrão.

Plebeia devia chamar princesa, é filha de rainha
mas é Mosquita, Mosquitim, quando muito, Mirim e Jataí
Discreta, humilde que só ela, tem lá muito valor 
O mel meio azedinho, dito medicinal atiça cobiça
Mas onde tem flor, tem ela.

Melipona varia, mas não é variada
Não cheira a marmelo, mas a chamam Moça branca, Marmelada.
Nidifica na taboca, no oco do pau, lá no curral, 
é sim, que eu já vi.
Guarda em potes diferentes, cônicos, ovóides
o mel e o saborá.

Ápis é ápis, aqui em qualquer lugar
caucasia, italiana, alemã, africana, europa,oropa.
continua sendo ápis,
de mel dourado e cera pálida
de própolis denso e pólem rico.
Guerreiras, não aceitam brincadeiras 
só não devoram mais que as arapuás nos bananais.

















quinta-feira, 12 de abril de 2018

PANC no Sisteminha::: Palma

A palma é uma planta muito consumida no nordeste, principalmente no meio rural. Infelizmente tratada com certo preconceito em outros lugares. No vídeo de hoje veremos que deve ser tratada no seu devido valor.

É a PANC de  hoje,  e vamos trazer uma receita bem fácil e trivial.

Uma forma de fazer que usamos aqui:

Refogado de palma com milho verde 

Ingredientes - 
  • 5 ou 6 raquetes novas de palma (sem espinhos formados)
  • 5 ou 6 espigas de milho verde ;
  • Cebolinha ou cheiro verde picados;
  • Cebola picada;
  • tomatinhos (opcional).

Modo de preparo:
Corte o pé (parte mais fibrosa) de cada raquete e depois com a ajuda de um descascador de legumes retire a membrana mais grossa das folhas, pique em cubinhos e leve para aferventar e escorra. Corte o milho verde e reserve. Refogue a palma escorrida até ficar ao dente nos temperos e acerte um pouco o sal. Acrescente o milho e continue refogando, finalize jogando os tomatinhos o cheiro verde e verifique se o sal está a gosto. Sirva com arroz branco, feijão, salada ou como preferir.
Sugestão:
Pode ser uma opção rápida para o dia a dia.

Dica: É muito mucilagenosa, mas não é um problema para quem não gosta dela, é só refogar até secar ou colocar um pouco de vinagre na água e aferventar um pouco.

Indicações:
Estudos sobre os componentes nutricionais da palma forrageira indicam se tratar de um vegetal mais nutritivo do que os comumente encontrados na culinária vegetariana, como a couve, a beterraba e a banana, com a vantagem de ter baixo custo, sem pesar no orçamento das populações mais carentes. Vale reforçar que em países como o México, Estados Unidos e Japão este vegetal é um alimento nobre, tradicionalmente servido em restaurantes e hotéis de luxo, em preparos como sucos, saladas, pratos guisados, cozidos e doces. (fonte)

quarta-feira, 11 de abril de 2018

Tanque de alvenaria, tchau lona

Depois de pensar em muitas opções e considerar materiais disponíveis, finalmente nossa transição do tanque de lona para o permanente aconteceu. A escolha recaiu sobre o tanque de alvenaria por vários motivos. Econômicos e simbólicos.

Material disponível

O material que já tínhamos foi decisivo na escolha do tipo de tanque. A princípio havíamos pensado na placa de concreto, mas havia um material disponível que já havia sido utilizado por nós diversas vezes, foi usado no nosso reservatório de água, depois para construção da nossa bacia de evapotranspiração. Tijolos de barro de antigos fornos de carvão que já existiam na propriedade e alguns que construímos quando chegamos aqui e o carvão parecia a única opção do local. Também haviam bolas de arame de antigas cercas.

Custos

Gastaríamos R$ 100,00 com meio milheiro de tijolos e cerca R$ 400,00 com arame novo, dos quais usaríamos somente 1/4 na construção. Este era o material que já tínhamos. 
Gastamos R$26,00 em cada saco de cimento (sim! é caro aqui), num total de R$ 208,00
R$ 90,00 de areia e 
R$77,00 de brita. 
Então gastamos, tirando o material já disponível R$375,00 e nossa própria mão de obra.

Material utilizado no nosso tanque

480 tijolinhos de barro 10x20x4
300m de arame (4 fios com cerca de 20m cada, nas paredes), restante no piso
8 sacos de cimento
23 latas de brita nº0
40 latas de areia lavada grossa

Etapas


1- Primeiro foi feita a amarração no piso, com sobras de arame vertical para altura das paredes (70cm);


2- Depois foi feito o piso com 3x1 (cimento e areia) para 1,5 de brita;

3- Foram usados meio traço de massa para assentar os tijolos espelhados na parede, o tanque de taipa foi usado como molde;

4- Conforme as paredes foram subindo, também foram sendo colocadas, fiadas de arame liso amarrando a estrutura e preenchidas com concreto entre as duas paredes;

5- A borda do tanque foi arrematada com tijolos deitados, ficando com largura de 10cm e encobrindo o preenchimento de concreto;

6- O tanque foi rebocado e posteriormente recebeu acabamento de cimento queimado, com nata aplicada com brocha;


7- Após 3 dias de cura, o tanque foi lavado e começou a ser enchido para receber os peixes.

No vídeo é possível acompanhar com mais detalhes.


segunda-feira, 9 de abril de 2018

Vento furioso e brisa suave












por Karla Caetano


Estavam os dois cada um no seu canto do mundo, conforme fosse o seu mundo. 
Na onde as matas estavam preservadas, 
onde a terra estava coberta da relva, 
onde os campos se cobrissem de flores, lá estava ela. 
Suave, roçando de leve os cabelos do milho.

Na onde os desertos de areia, com mais nada além das dunas e dos animais peçonhentos que se escondem dos homens ou espreitam por eles, 
onde a terra estivesse devastada, aberta em feridas chamadas sulcos ou erosões, 
onde os campos não viam uma única árvore por quilômetros, lá estava ele. 
Furioso, varrendo o mundo e trazendo tempestades.

Lá onde houvessem os rios correndo calmos, circundados de cílios verdes, cujas raízes lhes firmavam os leitos,
onde as plantações se sombreiam e onde a micro vida é abundante, lá estava ela.
Trazendo delicadamente o aroma da lavanda ou do alecrim do campo ou do mentrasto.

Lá onde as águas fossem represadas pelo homem e suas hidroelétricas cortando o fluxo dos rios, onde as monoculturas se estendessem a perder de vista, lá estava ele.
Tentando transpassar ruidosamente as barreiras de eucalipto ou sansão do campo, estrategicamente plantados.

Certo dia, perceberam que ambos estavam tristes e embora nunca se encontrassem no mesmo lugar trocaram palavras reverberando e vibrando o ar.
Descobriram um do outro o motivo do desespero.

Ela descobrira que estava cada vez mais condenada a desaparecer, como desapareciam seus lugares de repouso. Tinha receio de sair do abrigo da terra fresca e da sombra das matas e perder os freios e a razão.

Ele estava cada vez mais solitário como também eram todos os lugares que lhe davam passagem, confessou a ela que nem sempre fora assim tempestuoso. Já fora tão manso e sereno que por muitas vezes fora confundido com ela. Agora sem tantos rios para contemplar sugava da terra nua as águas que não via para refrescar-se, ressecava as plantações e derrubava as roças ao chão. Corria desesperado em busca de um lugar onde pudesse novamente sossegar.

Naquele momento, se pudessem, se abraçariam.
Mas é certo que antes de reconhece-la ele a destruiria. Se a encontrasse primeiro.
É que por onde ele corre, as massas de ar são quentes, e ocorreria uma temida frente, provocando aumento da temperatura.
Se do contrário, ela o avistasse antes, por planar em massas de ar mais frios, ela sem querer empurraria a massa de ar quente, provocando nevoeiro, chuva e queda de temperatura.

A pensar em como andam as coisas ultimamente não seria surpresa descobrir que desde aquela conversa, apesar de tudo, eles venham repetidas vezes tentando, na busca de consolar um ao outro, se encontrar.



segunda-feira, 2 de abril de 2018

Orvalho










por Karla Caetano


Outro dia uma gota brilhante me olhava de forma persistente e eu só conseguia pensar em como ela era cativante, quase hipnotizante. 
Era madrugada ainda, sol raiando, vindo, avermelhando o céu. 
O orvalho pingava das folhas, das flores. 
A luz tímida ainda, do sol que surgia, passava por entre as gotas formando um prisma, que colorido coloria a manhã do novo dia que devagar clareava.
Eu na estrada, esperando a condução, agachada a beira da cerca, fascinada.
Quem passasse pensaria que endoideci. 
Quem dera tivesse endoidecido antes.
Diante de uma beleza tão cheia de singeleza e que eu nunca tinha tirado tempo para contemplar.
Havia algo mais, porém, além da estética que me prendia alí.
Uma coisa de passado e uma coisa de futuro que eu não sabia explicar.
Primeiro passado, se algum dia não choveu na terra, podia até ser. 
Mas o sereno noturno que orvalhava as madrugadas, este não sei de onde tirei a certeza, existiu sempre.
Por causa do respirar das plantas, que transpiram e transpirando enchem o ar de umidade que condensa e condensada, escorre pelas folhagens.
Depois futuro, porque com o sumir das matas, certamente sumirá o orvalho.
Sumindo o orvalho, sumirão as nuvens, sumirão as chuvas, sumirão as folhas e as flores.
Sumiremos nós, sucumbiremos.
Este pensamento, junto com os faróis que iluminavam a estrada me agitaram e me tiraram do torpor de pensar tão distante. 
Levantei. O orvalho também.
Segui meu caminho. O orvalho também, em vapor.
Mais tarde voltei para casa.
O orvalho voltará também, amanhã. 
E por mais quanto tempo, ainda voltará?