Início

segunda-feira, 26 de março de 2018

Passarim








Por Karla Caetano


Lá estava ele, a um tempão, tangendo os periquitos que pousavam no milho. De repente, desistiu. Deixa eles comerem também né?  O que é que tem? Deixa. Decidiu. 
Na verdade, estava era vencido por eles, mas ponderou que era decisão dele, afinal o bichinho não tinha mesmo um milho mais gostoso que aquele por aquelas "bandas". 
Das goiabas ele desistiu de achar que todas estariam inteiras em todos os pés. O problema é que os danadinhos acham as maduras muitas vezes, antes dele. Os periquitos? Não só. Os João de barro, os sabiás, os puxa-saco-de-patrão, os bem-te-vi, até os tucanaçus. Colibri é que não, colibri corteja as flores. Mas o resto todo gosta mesmo é das frutas. Até as galinhas não resistem a um galho baixo e pesado de suculentas e coloridas e globosas e cheirosas frutas.
É barganha, afinal ninguém nunca pensou em pagar pelo trabalho deles? 
Não só por embelezar a terra, afinal os ipês se adornam de flores e aves. 
Ou de encher todo canto com seus cantos. Mas, e o trabalho da sêmea? 
Sim, por que eles saem plantando por aí desde de que a terra é a terra e ninguém se dá conta. 
As araucárias que o digam, e também as castanheiras.
O araticum, buriti e o açaí.
Jatobá, chichá e macaúba.
A calicarpa, em seus quase sete metros também o diga. 
Umas cem outras devem dizer também.
Como é que nasceu planta onde ninguém plantou é pergunta que pouca gente faz. E hoje em dia, quase ninguém faz. 
Fica aí, esse povo todo pensando que toda a vida só existiu plantadeira de soja e de milho. Fica aí, pensando que toda vida só existiu a matraca cantando no passo do agricultor na roça do feijão. 
Nem sabem da saracura-matraca e do matracão.
O palmito da juçara quase entra em extinção de tanto o homem se esbaldar do que não plantou e ninguém nunca viu uma ave lhes tacar pedras.
Deixem comer do milho, do mamão e da goiaba. 
Se disserem que em qualquer lugar do mundo se trabalha só pela comida, dirão uníssono que é escravidão. 
Ficar tangendo então, os passarim da comida, só pode ser maldade e judiação.


segunda-feira, 19 de março de 2018

A promessa









por Karla Caetano


O clima está quente, insuportavelmente quente. 
O vento passa pela porta de metal e faz cantar a porta num rangido tão insuportável quanto o calor. 
A desdem de tudo isto, lá fora uma galinha cacareja entregando que seu ninho está por perto e só de saber isto já é possível pensar no bolo da tarde. 
Por causa do bolo o próximo pensamento é quanto ao sabor e neste cismar já se esquece do calor que a esta altura já se tornou suportável, já que promete a chuva, que alegra a planta que sustem o fruto, ou se preferir a fruta. 
O bolo terá sabor da terra. Terá sabor de colheita no quintal.
Pode ser do milho verde, ainda molhado do sereno, 
Pode ser do bagaço do coco que sobrou depois da extração do leite para retirada do óleo perfumado, 
Pode ser da laranja, 
mas esta ainda não amadureceu, 
nem ela e nem a goiaba que abaixa as galhas com o peso da fartura de frutas ainda verdolentas prometendo seus sabores adocicados em cores vibrantes. 
Pensando nisto, aquele bolo, não terá aroma de laranjas tão cedo porque suas promessas ainda estão distantes. 
Talvez tenha sabores de bananas, já que estas mal mostrem o umbigo, rapidamente estão nos fazendo correr em bolos, tortas, vitaminas e doces, já que quando uma da penca se veste em tons amarelados, todas as outras a invejam. Nem prometem, quando vemos já se vestiram todas iguais.
Mas pode ser também de aipim, ou mandioca, ou macaxeira, tanto faz. Após a extração de seu suco posto para decantar o amido e deixado a fermentar para o tucupi que bem temperado, dará sabor ao peixe. A massa branca resultante poderia não prometer mais nada, só que ainda promete. Promete um bolo quente e fofo, que perfuma o forno sem muitos ingredientes que juntos aquecem a alma e saciam a fome.
Pode ser de tantas texturas, de tantas cores, de tantos perfumes. De tantas possibilidades. Depende da colheita.

terça-feira, 6 de março de 2018

Caixa e isca para Jataí - Passo a Passo

Já tivemos abelhas Jataí até em cabaças no nosso sistema, mas este projeto é seguramente um dos melhores que já vimos! E por isto consideramos importante compartilhar a informação. Esta caixa tem muitas vantagens: Custo baixo, fácil confecção, manuseio simples, rápido e limpo, espaço útil e confortável para as abelhas. São apenas algumas.




Vamos mostrar as etapas agora:

Materiais


Para a caixa

02 pedaços de madeira 10x10 
02 de 10x50 
02 de 14x50 
04 parafusos de 2,5cm 
12 ou 14 pregos 12x12 
01 ripa de 4mm de espessura de 23 cm
(a ripa de 23cm será dividida ao meio e serão duas (02) tariscas de 11,5cm)














Materiais - Para a isca

01 garrafa PET
01 pedaço de cerca de 8 cm de mangueira de chuveiro
Papelão de embalagem tipo kraft
Fita adesiva

Álcool de cereais ou água ardente
resina de propolis 

ou tintura de Propólis
Para a isca

No vídeo além de uma conversa bem interessantes sobre as abelhas há todos os passos de como a caixa foi feita.



segunda-feira, 5 de março de 2018

O homem e suas “descobertas”







Por Ana Primavesi

A Revolução tecnológica veio com tudo. A tecnologia digital, a energia atômica, o transporte aéreo, a medicina cada vez mais refinada. O homem domina as epidemias, faz transplantes, consegue aumentar em muito a vida. As sociedades mais avançadas vivem num bem estar nunca antes conhecido. O homem domina a natureza, o Mundo.
Mas ele domina mesmo?

A natureza estocou o gás carbônico que estava sobrando em forma de petróleo para não poluir a atmosfera e não criar um efeito estufa. O homem descobriu esses estoques e os usa deliberadamente soltando o gás carbônico para a estratosfera, causando o efeito estufa que a natureza temia. Agora os polos e as geleiras estão descongelando. A água nos oceanos aumenta e com isso sua pressão sobre o fundo do mar é maior. Aí, ocorreu um tsunami, um maremoto. 

O homem descobriu o átomo. Primeiro os chineses por meditação e o veneraram como o início de tudo. Depois os americanos através de física, e fizeram bombas atômicas para dominar o mundo.
Mas eles dominam a força atômica?

A natureza tinha uma válvula de segurança para que a vida do globo não degenerasse: as epidemias, pelas quais eliminava a todos que não eram mais estritamente adaptadas às condições do Globo. Existe permanentemente uma “erosão geológica”, de modo que sucessivamente faltam minerais e a vida tem de se adaptar. 

A natureza usava as bactérias e fungos como patógenos, tanto em homens como em plantas e animais para eliminar o que por causa de uma deficiência era fraco e doente, aleijado ou somente velho. Assim conseguia conservar uma vida pura e forte...

O homem descobriu as vacinas e os agrotóxicos com que defende homens e plantas contra os “patógenos”, que agora não podem mais matar os inadequados para a vida. E a vida está se degenerando. Um exemplo é uma das maiores reservas naturais do mundo, a Serengeti... Deixaram fora os predadores como leões e leopardos e pensaram que agora seria um paraíso animal. Não foi. Todos os animais degeneraram, inclusive os elefantes e tinham de reintroduzir os predadores se conservassem com saúde e não degenerassem e desaparecessem...

O homem derrubou as florestas com sua enorme biodiversidade para cultivar as terras com monoculturas.

No clima frio do hemisfério norte, introduziu a aração, isto é, o revolvimento para que a terra esquentasse mais rápido na parte de baixo depois do congelamento do inverno. Imitaram isso no clima tropical, embora a terra não estivesse congelada. Pela oxigenação radical havia um aumento explosivo de bactérias e a terra perdeu boa parte de sua matéria orgânica, que era a alimentação de sua vida. Sem vida ela compactou. Faltava ar, oxigênio. E também ficou mais ácida... aí apareceram minerais que viraram tóxicos, como o alumínio, o ferro e o manganês, que foram neutralizados com calcário. Consequentemente a terra perdeu mais matéria orgânica ficando somente um restinho muito resistente por causa de sua relação muito larga de C/N. E como as terras compactadas foram cada vez mais inadequadas para as culturas, adubou-se especialmente com nitrogênio, acabando com o resto de matéria orgânica mais resistente para aproximar a relação C/N. Aí a terra morreu de vez por falta total de comida para sua vida.

E em lugar de revitalizar a terra o homem desenvolveu uma tecnologia cada vez mais sofisticada para poder ainda produzir nestes solos mortos e explorá-los melhor antes que desertificassem completamente. A tecnologia inclui a mecanização em larga escala, abandonou-se a biodiversidade e passou-se a usar somente monoculturas como soja, milho, algodão ou cana, adubando, irrigando, defendendo-as contra parasitas que a natureza tinha mandado para eliminar essas plantas doentes por serem nutridas em desequilíbrio. Receberam 3 nutrientes em grande escala, embora plantas, animais e homens necessitem no mínimo de 45. As plantas ficaram doentes, mas os homens gastaram tanto para produzi-las que não as quis perder, e defendeu-as com substâncias muito tóxicas que aplicou, em parte diariamente. Agora tinha de comer plantas deficientes e doentes de corpo e alma, uma vez que ele somente pode receber o que a terra pode fornecer. E o agente mágico no fornecimento de nutrientes, a microvida, não existia mais.

Os defensivos clorados foram proibidos porque fizeram degenerar os genitais masculinos. Mas usam ainda deliberadamente os fosforados, que foram desenvolvidos durante a Segunda Guerra mundial como neurotóxicos para acabar com os inimigos. Ficaram neurotóxicos, embora agora usados contra insetos. Seus resíduos nas plantas causam neuroses, depressões e violência, que proliferam especialmente na juventude.

Mas também o simples desequilíbrio entre os nutrientes é nefasto. Assim, quando se aduba com muito nitrogênio,  cobre que está desequilibrado torna-se deficiente e 20 a 23% das crianças nascem paraplégicas, isto é, paralíticas. O Governo não obriga a adubar também com cobre para equilibrar nitrogênio/cobre, mas ele faz rampas de acesso para cadeiras de roda. Quando se aduba com muito fósforo, o zinco fica deficiente e muitas crianças se tornam dementes, ainda que se saiba que a administração de zinco cura a demência completamente, não se obriga a usar também a adubação com zinco, ou que se adicione zinco à alimentação das crianças. Fazem-se somente escolas para excepcionais.

Nos animais não é diferente. Havia um touro da raça Gir, que morava em Fernando de Noronha, “aposentado” mas muito querido por todos e por isso não fora abatido. Mas ele começou a subir no Palácio do Governo, entrar na secretaria e comer todos os despachos, correspondências e qualquer papelada que encontrasse. A cada vez que os guardas se descuidavam, lá estava ele comendo os documentos. Aí o governador me perguntou: o que fazer? Teriam que matar o touro? Já estava mal com o governo federal por causa disso. Eu lhe disse: não precisa matar o touro, simplesmente coloque pela manhã um pouco de farinha de ossos em seu cocho porque comer papel é sinal de que está deficiente em fósforo. Deram-no farinha de osso e nunca mais o touro subiu ao Palácio do Governo.

Ou um agricultor mudou seu gado para uma raça mais produtiva. As vacas eram bonitas e os bezerros nasceram grandes, mas morreram com um ou dois dias de vida. Não criou bezerro nenhum. Estava desesperado. Nas Universidades procuravam o vírus letal mas não podiam encontrá-lo. O homem me perguntou: o que faço? Eu respondi: dê um pouco de iodo às vacas nos últimos 2 meses de prenhez... Ele disse: não posso porque trabalho como biodinâmico e eles proíbem dar minerais. Então dê algas marinhas, insisti. Ele deu. E nunca mais morreu bezerro algum. Mais tarde descobriram que a região toda era deficiente em iodo. Solo-planta-animal-homem todos estão interligados. 

Na natureza tudo é interdependente, formando teias alimentícias.  Ela funciona em sistemas que são como máquinas complicadas e sofisticadas. Se uma peça, pequena que seja, for alterada, a máquina para. Mas a nossa ciência é analítica e trabalha somente com fatores isolados. E conforme o enfoque que se dá, a verdade é outra. Falta juntar os pontos e encarar a natureza sob um olhar que integra todos os fatores, e isso sim é a verdadeira visão ecológica.

domingo, 4 de março de 2018

Visitantes do Sisteminha

Iguanas nos pés de pinha. São doces e saborosas. Orgânicas... São como as goiabas. Não culpo a iguana por gostar da sombra dos pés de pinha. Nós as procuramos também. São inteligentes esses bichos.


Periquitos nas goiabas. São doces e saborosas. Orgânicas, sem uma gota de fertilizante ou qualquer outro veneno. Não os culpo por atacar minhas goiabas. Nós mesmo as atacamos com frequência. São inteligentes esses bichos.



Periquitos no sorgo. Já descobriram que os frutos daqui são mais saborosos. São inteligentes esses bichos.