Por Karla Caetano
Lá estava ele, a um tempão, tangendo os periquitos que pousavam no milho. De repente, desistiu. Deixa eles comerem também né? O que é que tem? Deixa. Decidiu.
Na verdade, estava era vencido por eles, mas ponderou que era decisão dele, afinal o bichinho não tinha mesmo um milho mais gostoso que aquele por aquelas "bandas".
Das goiabas ele desistiu de achar que todas estariam inteiras em todos os pés. O problema é que os danadinhos acham as maduras muitas vezes, antes dele. Os periquitos? Não só. Os João de barro, os sabiás, os puxa-saco-de-patrão, os bem-te-vi, até os tucanaçus. Colibri é que não, colibri corteja as flores. Mas o resto todo gosta mesmo é das frutas. Até as galinhas não resistem a um galho baixo e pesado de suculentas e coloridas e globosas e cheirosas frutas.
É barganha, afinal ninguém nunca pensou em pagar pelo trabalho deles?
Não só por embelezar a terra, afinal os ipês se adornam de flores e aves.
Ou de encher todo canto com seus cantos. Mas, e o trabalho da sêmea?
Sim, por que eles saem plantando por aí desde de que a terra é a terra e ninguém se dá conta.
As araucárias que o digam, e também as castanheiras.
O araticum, buriti e o açaí.
Jatobá, chichá e macaúba.
A calicarpa, em seus quase sete metros também o diga.
Umas cem outras devem dizer também.
Como é que nasceu planta onde ninguém plantou é pergunta que pouca gente faz. E hoje em dia, quase ninguém faz.
Fica aí, esse povo todo pensando que toda a vida só existiu plantadeira de soja e de milho. Fica aí, pensando que toda vida só existiu a matraca cantando no passo do agricultor na roça do feijão.
Nem sabem da saracura-matraca e do matracão.
O palmito da juçara quase entra em extinção de tanto o homem se esbaldar do que não plantou e ninguém nunca viu uma ave lhes tacar pedras.
Deixem comer do milho, do mamão e da goiaba.
Se disserem que em qualquer lugar do mundo se trabalha só pela comida, dirão uníssono que é escravidão.
Ficar tangendo então, os passarim da comida, só pode ser maldade e judiação.
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