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segunda-feira, 19 de março de 2018

A promessa









por Karla Caetano


O clima está quente, insuportavelmente quente. 
O vento passa pela porta de metal e faz cantar a porta num rangido tão insuportável quanto o calor. 
A desdem de tudo isto, lá fora uma galinha cacareja entregando que seu ninho está por perto e só de saber isto já é possível pensar no bolo da tarde. 
Por causa do bolo o próximo pensamento é quanto ao sabor e neste cismar já se esquece do calor que a esta altura já se tornou suportável, já que promete a chuva, que alegra a planta que sustem o fruto, ou se preferir a fruta. 
O bolo terá sabor da terra. Terá sabor de colheita no quintal.
Pode ser do milho verde, ainda molhado do sereno, 
Pode ser do bagaço do coco que sobrou depois da extração do leite para retirada do óleo perfumado, 
Pode ser da laranja, 
mas esta ainda não amadureceu, 
nem ela e nem a goiaba que abaixa as galhas com o peso da fartura de frutas ainda verdolentas prometendo seus sabores adocicados em cores vibrantes. 
Pensando nisto, aquele bolo, não terá aroma de laranjas tão cedo porque suas promessas ainda estão distantes. 
Talvez tenha sabores de bananas, já que estas mal mostrem o umbigo, rapidamente estão nos fazendo correr em bolos, tortas, vitaminas e doces, já que quando uma da penca se veste em tons amarelados, todas as outras a invejam. Nem prometem, quando vemos já se vestiram todas iguais.
Mas pode ser também de aipim, ou mandioca, ou macaxeira, tanto faz. Após a extração de seu suco posto para decantar o amido e deixado a fermentar para o tucupi que bem temperado, dará sabor ao peixe. A massa branca resultante poderia não prometer mais nada, só que ainda promete. Promete um bolo quente e fofo, que perfuma o forno sem muitos ingredientes que juntos aquecem a alma e saciam a fome.
Pode ser de tantas texturas, de tantas cores, de tantos perfumes. De tantas possibilidades. Depende da colheita.

2 comentários:

  1. Que bonito Karla, muito talento e leveza nas suas descrições.
    Adoro ler suas crônicas.

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    1. Obrigada professor. Sempre fico feliz com suas ilustres visitas.

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