Início

quarta-feira, 8 de maio de 2019

Mas qual a relação com Educação do Campo?

TRECHOS DO MEU TCC EM EDUCAÇÃO DO CAMPO - Parte 3
(Reflexões a partir das aulas da professora Mônica Castagna Molina, na disciplina Escola e Educação do Campo II no 8o semestre (2/2018) do Curso de Licenciatura em Educação do Campo no prédio da UAC da Faculdade de Planaltina - UnB)


Existe uma tríade que diferencia a Educação Rural da Educação do Campo: A agricultura camponesa, a busca pela educação emancipatória e uma base produtora de direitos e serviços.
Normalmente a escola convencional ignora os saberes e fazeres do sujeito na escola do campo, de modo que faça diferença e contribua com a permanência do campesinato no espaço rural. Ao virar as costas para a realidade do estudante forma-se um indivíduo para ir embora de sua comunidade. Isto porque não encontra aplicação de seu aprendizado no meio onde vive. Por muito tempo esse sujeito e seus saberes ficaram à sombra, como mero receptor de conhecimentos que o retirassem do jugo da enxada. Na Educação do Campo esses saberes e seus movimentos devem ser incorporados às práticas da escola.

A escola do campo não está necessariamente apenas no território rural, pois mesmo não estando em território rural, mas recebendo sujeitos que sejam do campo, ela é também Escola do Campo, mesmo estando nas cidades. Esta escola trata, ou deveria tratar, de como transformar a escola de forma que não contribua para o que sujeito saia, por falta de opção, na sua comunidade. Antes, que possa permanecer no campo caso seja a sua vontade e se sinta valorizado assim. É preciso transformar a forma como a escola socializa os conhecimentos. É preciso pensar numa forma de escola que valorize as relações camponesas, a vida dos sujeitos e sua realidade e questionar enquanto educadores “como vou ensinar aos meus alunos ligando o conhecimento científico com a realidade e a atualidade?”, pensando no trabalho como princípio educativo.

Levar a educação a considerar o trabalho socialmente útil, conforme preconiza Pistrak em Fundamentos da Escola do Trabalho, levando o estudante a pensar como a ciência pode ser útil para sua realidade, a pensar como aplicar os conteúdos escolares para melhorar suas formas de trabalho e sua forma de vida.

Como pensar no trabalho interdisciplinar na utilização da ciência e fazê-los pensar em qual é a lógica de crescimento de suas próprias famílias sem o foco mercadológico do lucro, mas na economia moral que se preocupa na reprodução da família, em como multiplicar o alimento para sobrevivência da família tendo a menor dependência do mercado e livre de agrotóxicos e transgênicos?
São formadas na escola as relações sociais, quer dizer, também podem ser transformadas na escola. É comum ver fomentada sempre uma relação de competição, que fortalecem o espírito meritocrático. Estudantes são cobrados a terem sempre que alcançar determinados índices e posições em gráficos e tabelas.

Isso é o que se aprende na escola tradicional, as questões de hierarquia onde um é sempre maior do que o outro. É nos ensinado a ter medo, a cumprir ordens, formando pessoas que não questionem e sejam verdadeiros cidadãos comprometidos com um projeto de sociedade.

Escolas e educadores que reflitam hoje, em como acabam intencionalmente ou não, formando estudantes para pensar que os saberes camponeses de seus pais não tem valor, e em como transformar a forma como a escola produz conhecimento é cada vez mais urgente. Vendo pela transdisciplinariedade é preciso cumprir esse desafio ao valorizar o que se tem na comunidade que, ao contrário do que se diz, não vale nada, na verdade vale e muito. Afinal se sobreviveram até esse tempo, seu conhecimento tem alto valor agregado. É preciso trabalhar valores éticos, políticos, culturais que possam ir mudando as relações sociais da escola e mudando também as formas como se enxergam e se valorizam. Escolas do Campo buscam promover a auto-organização dos educandos ao criar espaços de gestão coletiva, ao promover novas formas de avaliação, pois a avaliação não deve ser tratada como uma forma de exercer poder. Também a comunidade deve estar presente dentro da escola, assim como os movimentos sociais, e esta na vida da coletividade.

Como membro da família Caetano e estudante de Licenciatura em Educação do Campo, e agora pesquisadora, percebi a importância e a oportunidade de aliar a experiência do Sisteminha com a prática dos conhecimentos escolares, ou seja, aquela inquietação de estudante à eterna pergunta sobre onde se deveria aplicar toda aquela série de conhecimentos fragmentados pela escola e que deveriam servir a algo mais que palavras memorizadas para acertar as respostas nos concursos e
vestibulares. Disse para mim mesma a palavra famosa de Arquimedes. O meu eureka. Percebi ao analisar os currículos programáticos que todas as técnicas e motivos para fazer desta ou daquela forma, isto ou aquilo, dentro do modelo de produção de alimentos que estávamos experimentando e do qual estávamos obtendo resultados gratificantes, enquanto família, que os conteúdos que haviam em algum momento feito parte do que estudamos na escola, haviam sido pesquisados e fundamentados. Apenas não fizeram sentido algum na época da escola, e logo, foi motivo de ansiedade e desprazer. Não estavam, e como pude perceber como professora e também, agora como estagiária, ligados à vida.

Pude me identificar com o sofrimento e a crítica dos meus próprios filhos em relação à escola. Guardei tudo isto por um tempo, apenas para mim. Na comunidade de São Vicente boa parte das famílias deposita somente na sala de aula a esperança de tornar seus filhos preparados para a vida. Comumente também, ignoram que o cuidado com a terra, com a qualidade de alimentos e de vida sejam fatores potenciais na formação do indivíduo. Desvalorizam seus próprios saberes e usam o trabalho com a enxada como prenúncio de castigo na vida de quem não estuda nos bancos da escola e nos livros didáticos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário